domingo, 24 de fevereiro de 2008


O que eu deixo é o meu amor antigo, restos de uma paixão ferida. E ainda assim eu vivo.
Deixo os teus lençóis, eu deixo tudo teu e não quero mais a minha metade dos fatos.
Eu hoje não desistiria nunca de lutar se pelo menos a tua voz também gritasse junto a minha. Mas, te calaste. Errou quem acreditou que eu viveria no chão por aí, errou quem apostou que eu viveria de pedidos de "com licença" para poder caminhar. Nem tudo permanece colorido, e ainda assim eu acredito em sorte.
Foi um turbilhão de sentimentos indecifráveis. Parti do zero e regredi. Eu te tive e te perdi por ter dado ouvidos a eles, estes que gritavam dentro de mim para que eu te deixasse.
Esse casamento precisou de tantos aparatos para se tornar normal, e eu nunca acreditei em reparos. O bom dia era decorado, a tarde demorava para passar e quando a noite ameaçava chegar o cansaço surgia junto. Os anos alteraram a minha paciência, e foi ficando complicado conviver assim.
Eu te evitei, te quis longe de mim, e teus toques me faziam sentir saudades da minha casa, da vida que eu levava antes.
Construímos nossa casa, nossa família. O meu sorriso era falso e o teu abraço me sufocava, eu ainda queria conhecer o outro lado que o casamento me escondeu. E nunca houve desistência, mesmo que ideológica, de tua parte.
Nasceram anos depois os nossos gêmeos, e pra completar eram cópias tuas, físicas e psicológicas. E ainda assim eu duvidava. Mesmo com tudo na linha, eu desisti.
Quem insistiu nessa derrota e quem deu ouvidos a alheios foi eu apenas. Os anos se passaram e eu deixei mais dois de você em casa.
Quis viver o que eu não sabia mais, o que eu não queria mais, e descubri isso tarde demais.
Pela primeira vez te amei, ou quem sabe já te amava durante aqueles nove anos de casados e eu nunca tinha olhado por dentro de mim.
Se te menti foi sem saber, mas agora eu sabia que eu te amava, e sabia o que queria. Arrumei minhas malas e voltei para casa. Eu sei que os nossos filhos e você nunca irão me perdoar pelo abandono temporário, e pela presença fundamental de uma mãe e de uma esposa que eu apaguei.
Tudo o que eu mais queria agora era reverter tudo isso, e te mostrar que aquela capa de durona me enganou também. Agora é tarde demais, você partiu, sem presenciar os frutos que plantaste dentro de mim e que agora estariam prontos para serem colhidos.
O que eu deixo é o meu amor antigo, restos de uma paixão ferida. E ainda assim eu vivo...


Tylla Lima
Foto: Pedro Moreira

2 comentários:

Nicolly ♥ disse...

Leio td isso e acho demais qndo alguem consegue passar p papel sentimentos q sentem de forma tão clara!!!
Não sou boa de escrever mais entendo bem sentimentos assim!!!
Adoro as duas mesmo só conhecendo uma d Vcs ...rsrsrs
Um beijo grande
T+

Rima, flor e poesia disse...

Relendo o texto detectei um erro, lê-se DESCOBRI ao invés de DESCUBRI.
Perdão,
Tylla.