sexta-feira, 19 de setembro de 2008


Foto: Pedru Li

Noite, rua deserta, o relógio marcava mais ou menos onze horas. É normal naquele lugar a rua adquirir um ar melancólico ao entardecer, talvez pela ausência de pessoas, talvez porque a própria rua se sinta só. A verdade é que nesse dia ela talvez tivesse um motivo.

Naquele cenário, os únicos espectadores eram o casal que caminhava rápido – como de costume. Aos passos apressados, ela sentia a guerra interna pela qual passava se apossar do seu corpo – guerras aquelas, comuns às mulheres confusas como ela. Já nele, sentia o pesar, o desespero, como se a qualquer momento fosse desabar, mas ele, sempre preocupado com ela, tentava em vão fazer a figura do homem forte. A noite envolvida pela luz do luar – e como estava linda a lua – esfriava e fazia com que aquele momento se assemelhasse a um final de filme, onde tudo passa em slow motion, quase congelando os movimentos dos personagens principais.

O caminho que percorriam, parecia não ter fim, e os passos acelerados pareciam fazer o coração dela sangrar mais depressa. Sentia que não queria chegar ao destino final. Sabia o que lhe aguardava. A cada passo, uma infinda dor, como se ao colocar os pés no chão, cravassem uma faca em seu peito. Calou-se em seu silêncio. De repente, percebeu que ele a olhava, virou, não queria que ele percebesse sua aflição. Sentiam-se em suas tristezas, na decisão que se aproximava, na futura ausência um do outro. Não arriscavam nenhuma fala, e continuavam a entreolhar-se disfarçadamente. Um olhar perdido, daqueles que pedem por socorro, que desejam a cura para os maiores males da humanidade, os mesmos que querem implorar, falar as coisas mais absurdas, simplesmente por não querer perder algo que faz bem e não apenas bem, faz feliz. Mas eram prudentes, e digo mais, eram tolos. Olhavam-se, sofriam e calavam.

Ao se aproximar do destino final diminuíram o passo, sabiam que o fim estava próximo, deram as mãos e, de maneira particular, puxavam e apertavam como se dissessem um ao outro “não me deixa”. Não queriam desvencilhar-se. Nem ele, nem ela. Aquele gesto era um simples sinal de força a um casal que demonstrou vários sinais de coragem. De mãos dadas, ela se lembrou das promessas de amor que haviam feito, sempre acompanhadas de um “pra sempre”, de um “nunca” e a promessa é essa ou deveria ser.

Chegaram enfim ao destino final, pararam, tentaram algo que mudasse aquela situação, mas foi em vão. Amavam-se, sabiam disso. A pouca autoconfiança, carência e medo talvez fizessem com que às vezes achassem o contrário, mas se amavam, amam e sabem disso. Na memória, flashs de toda aquela fantástica realidade. Era do tipo que acredita em finais felizes com direito a eternidade, casa com quintal, declarações de amor em público, sorrisos bobos e apelidos mal bolados, mas não sabe mais como viver com seu desejo de ser feliz.

A rua acabou. Mas a história não, e por mais que não se escreva mais nada sobre aquele dia, a memória se encarrega de fazê-la lembrar, o que nunca esqueceu.

Catarina Barbosa

2 comentários:

Flávia Lago disse...

Presentinho pra vc no meu blog, flor!
beijO

Flávia Lago disse...

SElo pra vocês no blog...de novo!
bjs